Vai um copo?
A vida de enólogo, para muitos, é perfeita.
E não só porque a vida dos outros é sempre melhor que a nossa.
Não.
Para muitos, o enólogo é aquele ser abençoado que recebe dinheiro para beber vinho.
E recebe.
Mas não bebe, coitado.
Aliás, para mim o enólogo tem a profissão mais ingrata do mundo, pois está sempre em cima da linha, pronto para beber, mas nunca bebe.
Um enólogo é um bulímico com classe.
No entanto, muitos de vocês dir-me-ão:
"Mas tens de ver que o enólogo passa a vida a saborear vinhos de qualidade, de castas muito selectas."
(Ou então não me dirão nada, visto que a cadência de comentários neste blog roça a nulidade.)
E eu, a isso, respondo à moda de Cunhal.
Olhe que não, olhe que não...
(Será uma notícia? Vejam.)
Na região vinícola de Wairarapa, na Nova Zelândia, o vinho branco tem um aroma a... Urina de gato.
Meses a tratar das vinhas, o suor das pessoas a colherem as uvas, semanas de fermentação e, afinal, o resultado sabe a urina de gato.
Ao pé disto, o tempo investido a apoiar o Benfica até parece bem empregue.
Afinal, nós e os nossos antípodas estamos mesmo em extremos diferentes.
Quer ao nível do rugby quer ao nível do vinho.
E se somos mesmo assim tão diferentes, então na Nova Zelândia devem haver políticos de confiança.
E agora, uma sequência de perguntas sem resposta:
Será que os neo-zelandeses têm a marca registada?
Se sim, isso quer dizer que é proibido engarrafar urina de gato e vendê-la ao público?
Então porque é que ninguém multa a malta que faz a cerveja Tagus?
Um vinho que saiba a urina de gato - e isto pode chocar-vos - não me surpreende.
Afinal nem todos podem estar ao nível de Casal Garcia.
O que me surpreende aqui é como é que alguém, com bom vinho para analisar, decide verificar se uma dada casta sabe ou não a urina de gato.
Isto só demonstra que até os enólogos podem ser parvos.
Ou isso ou então, às vezes, não deitam o vinho fora.
O que não se deve fazer, claro.
Se todos tivéssemos o cuidado de expelir o vinho que saboreamos este país estaria bem melhor.
E Tony Carreira no esquecimento.