Fernando Penim Redondo (FPR) comentou o meu artigo "Opiniões", onde comentei um artigo de opinião de João Miguel Tavares acerca dos radares de Lisboa.
Nesse artigo, FPR despediu-se dizendo que já conduz à 43 anos e que já fez cerca de um milhão de quilómetros pelo mundo inteiro.
Reparo, no entanto, que por passar tanto tempo a conduzir, não deve ter muito tempo para escrever... Digo isto porque o seu comentário não é uma resposta directa ao que escrevi, mas sim a cópia de um artigo que escreveu no seu blog (Clica aqui para veres o artigo.)
Isto demonstra que esta gente que só sabe defender de forma descontrolada a destruição dos radares de controlo da velocidade, em vez de debater as ideias dos outros de forma humana. Aposto que nem leu o meu artigo! Viu que o tema era "Radares de Lisboa" e pimba, toca a colar a cópia do artigo dele!
Mas não vou entrar por aí...
FPR abre o seu artigo/comentário com uma observação profunda:
"A Petição aproxima-se paulatinamente das 8.000 assinaturas e estamos em pleno Agosto. Só um “cego” não vê o significado que isso tem."
Bem visto, caro FPR! Mas repare: A 15 de Agosto de 2007 já tinham sido detectados 63.000 condutores em excesso de velocidade (Li estes dados no Correio da Manhã e está aqui a notícia, para todos os efeitos). Assim sendo, fazendo uma análise matemática, apenas 12,7% dos infractores assinaram a petição. "Só um "cego" não vê o significado que isso tem."
Por outro lado, vi há tempos na televisão que a sinistralidade nas estradas da capital diminuiu com a instalação dos radares. Caro FPR, "Só um "cego" não vê o significado que isso tem."
FPR continua o seu artigo:
"A Petição tem incomodado algumas pessoas. São os fundamentalistas do trânsito e pertencem a diferentes categorias."
Antes de mais, a petição não me incomoda. Ainda assim, o rótulo de "fundamentalista do trânsito" fica-me bem. Sinto-me bem com ele! Não há um tamanho assim mais pequeno para eu por na testa?
Mas FPR, no seu alto pedestal, decide dividir esses ignorantes "fundamentalistas do trânsito" em categorias, como se estivesse a falar de atletismo.
"- Os que foram afectadas por algum acidente e que, compreensivelmente, ficaram traumatizados. É pena que uma parte dessas pessoas pareça ter dirigido as suas energias não para resolver os problemas mas para castigar a sociedade."
Calma lá! Querem ver que quem teve um acidente não aprendeu que talvez esse acidente se deveu ao excesso de velocidade? Será que usar essa aprendizagem para apelar a uma condução responsável e assim evitar acidentes é castigar a sociedade? Defina-me "castigo", caro FPR.
"- Os que sonham com um mundo idílico onde só haveria peões e, talvez, bicicletas. Como se trata de uma utopia, que as pessoas crescidas não adoptam, tentam chegar ao mesmo resultado criando toda a espécie de empecilhos aos odiados automobilistas."
Impor uma velocidade máxima de circulação de veículos é, para FPR, criar um empecilho ao automobilista. Eu não acho. Penso que com isso estamos a regular a utilização de um espaço (a estrada) que é público. Sim, público. A estrada não pertence ao Sócrates, ao Cavaco ou ao senhor FPR! A estrada é de todos nós e todos nós temos o direito de a utilizar em segurança, sem sermos abalroados por outros condutores. Mas isto sou que, democraticamente, acho. O caro FPR deve ter outra opinião. Explique-a, já agora.
"- Os que têm da vida em sociedade uma visão burocrática e legalista. Essas pessoas têm dificuldade em perceber que há uma diferença entre a velocidade máxima legalmente permitida e a velocidade máxima para circular em segurança nas situações concretas do dia-a-dia. Que só esporádicamente a velocidade máxima estabelecida por lei pode ser usada, com razoabilidade, na vida prática."
Secalhar eu estou neste lote. É capaz de ser uma visão burocrática e legalista querer ter uma estrada segura para todos. Agora, caro FPR, eu sou relativamente novo (O senhor conduz à mais tempo que o dobro da minha idade!), mas estou convicto de uma coisa: o cálculo das velocidades máximas não deve ter sido uma coisa aleatória. Eu acredito que os limites de velocidade são os que nós, encartados, conhecemos porque pessoas acreditadas, com conhecimentos sobre mecânica ou sobre as capacidades intelectuais do ser humano (ao nível de tempos de reacção, perda de reflexos com o aumento da velocidade, etc...) concluiram que estes eram os limites máximos aceitáveis para uma convivência segura nas estradas.
"Como o objectivo é castigar a sociedade é preciso transformar cada cidadão num assassino disfarçado.A maneira mais fácil de o conseguir é estabelecer padrões de comportamento, por exemplo com os limites de velocidade, quase impossíveis de cumprir."
Castigar a sociedade? Castigo é ter de estar parado durante duas horas na Segunda Circular porque um "chico esperto" qualquer achou que o limite de 80 km/h era uma estupidez e que, ao ir à sua velocidade de segurança, teve um acidente. Ou, pior que isso, perder familiares por culpa de condutores irresponsáveis que não sabem cumprir limites de velocidade. Isso sim, é castigar a sociedade!
Caro FPR: Se for a http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugal e vir bem, o nosso sistema político não é a anarquia. Como tal, estabelecer padrões de comportamento em situações como a condução, onde a vida dos cidadãos está sempre em jogo, não me parece uma forma de tornar cada cidadão num assassino.
"Mas os milhões de cidadãos que todos os dias desrespeitam os limites legais de velocidade não são, na sua esmagadora maioria, nem “street racers” nem irresponsáveis. São pessoas normais que trabalham; que precisam de chegar ao emprego a horas; que têm em casa, à espera, os velhos ou as crianças; que tentam chegar ao infantário antes que feche; que trabalharam demasiadas horas e já estiveram em demasiados engarrafamentos. Estes é que são os criminosos que se devem perseguir ?"
Eu também conduzo, ainda que há pouco tempo. Mas digo-lhe, caro FPR: também tenho a minha vida. Também tenho de chegar a horas ao comboio, também tenho casa, também tenho pessoas à minha espera em casa... Mas (não querendo dizer-lhe que sou "O Exemplo") digo-lhe que procuro sempre respeitar os limites de velocidade e costumo, curiosamente, chegar a horas.
O português é que é assim: o tempo é muito, pode ficar mais um bocadito na cama... Depois levanta-se e repara que secalhar está em cima da hora. Não há problema: encurta-se o tempo de viagem, indo a velocidades não permitidas, e tudo fica bem.
"Invocam irresponsavelmente as guerras civis mas omitem que os 850 mortos que ocorrem durante um ano nas estradas portugueses são um número atingido em questão de dias, por exemplo nos atentados do Iraque ou mesmo nos homicídios da Venezuela. Se isto não é manipulação..."
Não. Manipulação, caro FPR, é comparar as mortes consequentes de instabilidades políticas ou sociais noutros países com as mortes que ocorrem num espaço público, regulado, que são consequência do desrespeito das regras de circulação com as quais cada condutor se comprometeu ao tirar a carta de condução.
"A tal “guerra civil nas estradas” muitas vezes caracterizada como “de todos contra todos” induz a ideia de intencionalidade."
Ah, não. Eu passei a 176 km/h na Segunda Circular, mas foi sem querer... Não tinha qualquer intenção mesmo!
Depois desta análise, FPR apresenta-nos medidas alternativas para o combate à sinistralidade rodoviária.
"- Abandonar o catastrofismo e as abordagens emocionais e tratar do problema de acordo com a sua verdadeira dimensão."
Perdoe-me as consequências da leve formação no mundo da Matemática, mas "tratar o problema de acordo com a sua verdadeira dimensão" é analisar os números da sinistralidade e tirar conclusões! Porquê é que o FPR não faz isso?
"As fortunas que se têm gasto numa prevenção rodoviária mal perspectivada teriam, provavelmente, salvo muito mais vidas em campanhas de prevenção do cancro ou das doenças vasculares/cerebrais, que matam mais de 40.000 pessoas todos os anos."
Caro FPR, relativamente a isto, faço minhas as suas palavras: "Se isto não é manipulação..."
Depois, mais uma medida alternativa:
"- Adoptar uma política de pontuação individual dos condutores, que parece estar a resultar em Espanha, baseada na penalização das manobras perigosas e do consumo de álcool e drogas em vez de privilegiar o incumprimento dos limites abstractos de velocidade."
Aqui, eu concordo consigo até ao "em vez de privilegiar o incumprimento dos limites abstractos de velocidade."
"- Ouvir o que pensa a generalidade dos cidadãos em vez de os tratar como delinquentes.
Se os cidadãos são suficientemente responsáveis para eleger o Presidente e a Assembleia da República também são responsáveis nas questões do trânsito. Se assim não fosse teríamos que concluir que as leis do trânsito não são legitimas pois foram feitas pelos eleitos do povo."
Não quero por a sua experiência de vida em causa, mas já agora dê um pulinho a um dicionário de língua portuguesa e veja o significado da palavra "demagogia". Depois pense um pouco nesta sua proposta...
Conduzo à menos de um ano, ainda não devo ter chegado aos três mil quilómetros de estrada. Mas estou convicto que é cumprindo as regras de trânsito que as estradas se tornam seguras para todos nós.
Se tem uma opinião diferente, explique-a de forma coerente e responsável.