Eu quero um quintal assim.
Nunca fui adepto da pescaria.
Não obstante, não tenho nada contra.
Agradeço até quem inventou a forma de pescar salmão.
Mas, por favor, não me venham convidar para passar uma manhã de cana na mão, pois se fosse para isso eu tinha-me alistado na Marinha.
Eu sei que no Litoral muitas pessoas dependem economicamente da pesca, mas há também quem a pratique apenas por puro prazer.
Apenas para terem alguma coisa com que se entreter ao fim-de-semana.
E é no meio desta abordagem à pesca como actividade de lazer que surge o popular efeito de pescador.
Aquela necessidade de se dizer ao mundo que o peixe que ele apanhou é maior que o do senhor da cana ao lado.
Com o sentimento de que afinal o tamanho conta, por muito que, noutras circunstâncias, implore à sua esposa para não pensar assim.
Estou em condições de dizer que essa vontade do pescador comum em dizer ao mundo que apanhou um peixe enorme deverá, o mais cedo possível, acabar.
E isto porque um homem só se deve gabar das coisas difíceis que faz, e apanhar um peixe grande já é coisa acessível.
(A notícia, claro, não podia faltar.)
Em Fremont, a sul de São Francisco, no estado norte-americano da Califórnia, Ron Davenport apanhou um peixe com cerca de 25 Kg no seu quintal.
Não foi preciso barco, não foi precisa cana de pesca, não foi preciso isco, nada.
O verdadeiro sonho americano: apanhar um peixe que alimenta a família por duas semanas sem um mínimo de esforço.
É esta a resposta da natureza à crise.
É isto que Obama promete fazer.
Ter um gato a urinar no nosso quintal é, a meu ver, normal.
Ter um peixe de 25 Kg a passear pelo canal de água que passa nas traseiras da nossa casa, por seu turno, roça a minha ideia do paraíso.
No meu paraíso, a comida chega-me a casa sem que eu peça por isso, por muito pouco higiénica que seja a navegação de marshmallows em canais de rega.
Por outro lado, já ninguém se mete com este homem no universo dos pescadores de fim-de-semana.
Tantos e tão tecnicamente aprumados pescadores treinam durante anos e anos para apanharem apenas carapaus e sardinhas e este Ron, sem fazer nada por isso, dá por ele a apanhar uma bizarma de peixe.
Sem dúvida, caros leitores, este senhor está abençoado.
Melhor sorte só a de quem, na costa portuguesa, pescar sacos de droga.
Aquilo nas ruas do Bairro Alto ainda deve render bem.