O Zé Povinho em estado puro.
Ontem, numa reportagem de um noticiário televisivo sobre a fiscalização por parte da GNR das actividades que têm surgido na albufeira da barragem do Alqueva, um senhor que praticava campismo selvagem ilegal proferiu, indignado, a seguinte frase:
"Eu não percebo porque é que sem licença de campismo não posso estar aqui, mas com licença de campismo já posso! Não percebo!"
Esta é uma indignação pretinente, caros leitores! Na verdade, segundo este senhor, não existe diferença nenhuma entre ter uma licença legal para praticar uma actividade ou não ter essa licença legal.
Não se percebe! Este país está, de facto, extremamente burocrático! Mas porque raio é necessário ter uma licença para fazer algo neste país? Quando eu tinha 15 anos também queria andar de carro... Porque é que raio precisava eu de uma licença de condução?
Segundo este senhor, este país agarra-se, estupidamente, à importância leviana de papéis que apenas nos dão a autorização legal para praticar algo.
E tem razão, de facto. Este senhor sabe o que diz, indigna-se com pouco e levanta questões que colocam em questão a integridade do sistema que controla este pequeno rectângulo ao canto da Europa. Este senhor deve ser, seguramente, o melhor comentador político da tasca da sua aldeia, e todos os seus vizinhos, com o copo de vinho na mão, o ouvem com atenção.
Só é pena que o calendário que este senhor tem na sua cabeça seja referente ao ano de 1756...
Mas o senhor tem razão. Os papéis têm demasiada importância na nossa sociedade. Mas só para alguns...
Porque é que um senhor que é engenheiro não pode ser Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e outro senhor, que se diz engenheiro sem ter os papéis em dia, pode ser Primeiro-Ministro?
Acho que o senhor não levantou essa questão durante a reportagem porque, para ele, D. José I é quem manda neste país...