Apraz-me encetar o presente artigo asseverando-vos que sustento um singular fascínio pela nossa língua.
Não se constata pela antecedente frase?
É verdade, eu tenho o dicionário da Priberam nos gadgets da minha sidebar do Windows Vista.
Porque às vezes gosto de usar palavras diferentes ou então porque Cavaco Silva, de vez em quando, fala sobre a democracia.
Mas a minha paixão pela língua portuguesa fica-se por aí.
Recorro ao dicionário apenas quando necessito, e não por passatempo.
Já Ammon Shea não pode dizer o mesmo em relação à sua língua materna.
(O já habitual link para a notícia, numa palavra ao acaso.)
O britânico Ammon Shea leu o Dicionário Inglês de Oxford (composto por 20 volumes) em apenas um ano!
Não merecerá este senhor um prémio internacional?
Algo como "Prémio Nobel do Combate à Vida Social"?
Um dicionário é como um termómetro.
Está ali guardadinho, e só se usa quando precisamos.
Para quê controlarmos a nossa temperatura diariamente se não bebemos leite chinês com melamina?
Também no dicionário a questão se coloca: Para quê lê-lo de uma ponta à outra se ninguém usa a palavra "omnimodamente"?
(Repararam na forma perspicaz como eu, ao dizer que ninguém usa uma determinada palavra, acabei por utilizá-la? Mas não a utilizei dentro do seu contexto, como é óbvio. Querem saber o que significa, querem?(1))
Sem dúvida, o senhor Shea tem um problema qualquer.
E diz ele que, com esta sua aventura pelo mundo da definição, perdeu a capacidade de conversar normalmente, pois esquece-se por vezes de palavras como "pão" ou "sapatos".
E eu sinto o mesmo quando consulto o dicionário.
Neste momento, por exemplo, quero adjectivar Ammon Shea e não me lembro do melhor termo.
Deixem-me pensar mais um bocadinho...
Ah, já me lembrei!
Idiota.
Mas, no fundo, tal como Rui Gameiro certamente preconizará, Ammon Shea é a consequência do meio em que se insere.
Não o tivessem obrigado a ler as Fábulas de La Fontaine em menos de um dia e hoje este senhor só lia o Daily Mirror.
Caros leitores, aguardem mais uns tempos e em Portugal também teremos o nosso Ammon Shea.
Basta continuarmos a obrigar os estudantes a lerem Os Maias em menos de uma semana.
(1) Se está curioso acerca da palavra "omnimodamente", cuidado. Está a desenvolver a curiosidade de Ammon Shea, logo a sua vida social corre perigo. E eu não quero ser culpado por isso. Depois não diga que eu não lhe avisei omnimodamente.
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