Uma obra prima de humildade.
Foi notícia de abertura do Jornal da Tarde de quarta-feira, como costuma ser todos os anos por esta altura: o ranking oficial de escolas secundárias do país.
E todos os anos é assim:
Há uma escola secundária que é a melhor do país porque se trabalha muito lá dentro, porque os professores são exigentes e porque os alunos têm um bom acompanhamento...
Todos os anos, a mesma conversa.
Este ano, o Jornal da Tarde decidiu destacar o Colégio S. João de Brito, pois esta foi a escola do país com mais de cem exames a ter melhores classificações.
Uma vez mais, o discurso é o mesmo:
Acompanhamento por parte dos professores, trabalho e exigência.
Mas na reportagem da RTP (Convido-vos a vê-la aqui! Ao minuto dois o pivot começa a anunciar a notícia.) surge uma frase proferida por uma aluna deste colégio quando, confrontada com o facto de a sobeja maioria dos alunos que frequentam o estabelecimento serem da classe média-alta:
"É um privilégio, mas não sinto que outras pessoas que estão lá fora não possam também ter os mesmos conhecimentos e chegar a um nível tão alto como eu."
É, de facto, uma frase a analisar.
Esta aluna do Colégio S. João de Brito tem, realmente, um óptimo acompanhamento por parte dos professores.
E trabalhar... Upa upa, trabalha que nem uma doidivanas!
Mas parece-me que em tantos anos de aulas neste colégio fantástico, ainda não houve um único professor que, por um minuto que fosse, lhe falasse sobre uma coisa muito gira e fofa que às vezes ouvimos falar: humildade.
Não. Esta estudante coloca-se no seu alto pedestal de aluna de um colégio da capital e refere-se aos alunos de outros estabelecimentos como sendo "outras pessoas que estão lá fora".
Elitismo? Não.
Idiotice.
Esta estudante merece, de facto, a nossa admiração! Nós, pessoas que estamos cá fora, idolatramo-la de forma tão convincente que quando a vimos ajoelhamo-nos sempre.
Eu, confesso: se a vir um dia na rua, peço-lhe um autógrafo.
Ah, não. Ela não anda na rua. A rua é para as outras pessoas que estão lá fora.
Para ela, o mundo é o colégio, a mansão da sua família e o carro que a leva todos os dias à porta do colégio.
Vida social? Não. Isso é para as outras pessoas que estão lá fora.
Mas depois esta estudante ainda diz:
"...não possam também ter os mesmos conhecimentos e chegar a um nível tão alto como eu."
Ainda hoje suspiro pelo dia em que consiga ser tão culto e ter um nível tão alto quanto esta rapariga.
A sério.
Aliás, estou a rever o vídeo, só para confirmar se ela não tinha o cabelo branco, um farto bigode e um charuto na mão, enquanto murmurava ao longo do seu discurso "E=mc2".
Mas não. O Einstein era um pouco mais magro.
Esta senhora (Sim, senhora. Raparigas são as outras lá de fora!) é, indubitavelmente, um poço de cultura.
Em que dia completou Paulo Portas o seu ensino superior?
Aposto que ela sabe.
E se não souber, pergunta ao papá à hora de jantar, que ele deve conhecer o Portas de certeza.
"Eu quero ser mais que perfeito,
maior do que a imaginação."
Assim se cantava no genérico do Pokemón.
Eu não. Hoje canto:
"Eu quero ser aluno do Colégio S. João de Brito
Maior que um simples parvalhão."
Mas porque raio ainda se fazem rankings destes?
Para engrandecer o ego dos alunos que por sí só já não são humildes por natureza?