Um artigo sujo, para variar.
Se há local de culto numa sociedade moderna, esse local de culto é a casa-de-banho pública.
Um sítio onde todos nós, cidadãos, aliviamos as nossas necessidades básicas, enviando tudo o que dessas necessidades resulta para o mesmo local.
Como se os nossos restos precisassem de falar entre si, num mesmo poço, antes de receberem os produtos desinfectantes...
Mas a sério: as casas-de-banho públicas são, de facto, algo a venerar.
Especialmente aquelas que, para separar as diferentes sanitas, têm uns acessórios de mobiliário muito escassos, que nos permitem ouvir tudo o que do outro lado se passa.
Essas casas-de-banho, sim senhor, são de louvar.
Porque, precisamente, permitem-nos ouvir o que se passa do outro lado!
Eu não sei o que vocês acham, mas cá para mim, defecar deve ser uma coisa feita na intimidade do nosso ser.
Sem mais ninguém a ouvir.
Somos só nós e a nossa poia.
Mais ninguém, se faz favor.
Ninguém vos chamou.
Porque, convenhamos: No trono de porcelana, todos nós temos a tendência de agir como reis.
E de gritar, se for preciso.
E, como reis que somos, não queremos que os outros reis do lado vejam como nós tratamos os nossos súbditos.
(Se bem que o tratamento é todo igual: Abrir o autoclismo e dizer-lhes adeus...)
Mas, ainda assim, esta questão de se ouvir tudo o que se passa do outro lado é assustadora.
Urge então a apresentação de um conjunto de frases que não convém que sejam ditas em pleno cubículo de casa-de-banho pública, senão a vossa saída até ao lavatório para lavar as mãos poderá ser brindada com olhares muito estranhos por parte de quem ouviu o vosso desabafo.
(Ainda assim, proponho-vos que as usem assim uma vez, só para ver o que acontece.)
"Shiiiiiiiiiii!"
Se esta frase for dita com a entoação correcta, a pessoa cá fora poderá pensar que você é alguém que, na altura de defecar, não brinca em serviço. E isso, convenhamos, deixa uma imagem muito rude. Em vez disto, diga antes um "Só?", e vai ficar com a imagem de uma pessoa com classe e sofisticação, que só come nouvelle cuisine e que, portanto, tem pouco lá dentro para defecar...
"Então mas tu queres ver que..."
Esta frase por si só coloca a pessoa numa situação de embaraço muito forte. Porque quem diz isto no cubículo da casa-de-banho está, obviamente, com problemas para enviar os seus restos pelo cano abaixo. Tal facto poderá apenas significar que comeu demasiadas batatas recentemente... Mas, ainda assim, fá-lo parecer um homem das cavernas. Tenha cuidado com esta expressão. Outras frases como "Fazem estes canos sempre estreitos, pá..." também são a evitar pelo mesmo motivo.
"Epá, sim senhor!"
Nós sabemos: é sempre um alívio ir à casa-de-banho. Mas partilhar esse alívio com as outras pessoas pode não ser muito correcto. Nós percebemos que agora já não sente as calças tão apertadas e que já pode ir dançar com aquela loira fogosa da festa... Mas não partilhe isso com quem ali se encontra. Porque quem ali se encontra pode estar com problemas de digestão, e só com quinze visitas ao cubículo é que se poderá sentir como você. Contenha-se, a sério.
Mas, caros leitores, a meu ver há uma frase ainda mais perigosa para se ouvir numa casa-de-banho pública.
Mas só na parte dos homens.
Imagine que um homem entra na casa-de-banho quando você está a lavar as mãos, aproxima-se do urinol, abre a portinhola e diz:
"Olha-me este..."
Inquietante, não?