Aprende roubando para a aprender.
O ensino, tal como tudo à excepção do comunismo, evolui.
Para tristeza do PNR, longe vão os tempos em que os livros nem cores tinham, e cada aluno tinha à sua frente um pedaço de ardósia no qual resolvia os problemas que o Sr. Professor, com a régua de madeira na mão, ditava.
(Repararam como eu, com uma só ideia, consegui criticar tanto a esquerda como a direita da política em geral? Bolas, está-me no goto.)
Hoje os desafios são diferentes. Afinal, dividir 764 por 38 já não é difícil, desde que a calculadora tenha pilhas.
Desenhar um ângulo de 32,46º com precisão é bastante fácil, desde que o AutoCAD não deixe de responder e a impressora tenha tinta.
Ter raquetes para jogar ping-pong deixou de ser complicado, dada a existência do Magalhães.
E chegar a horas às aulas não é de todo uma missão impossível, desde que as ruas tenham carros para os alunos roubarem.
"O que é que estás pr'aí a dizer, Dias?"
Sim, é verdade. A notícia está no próximo parêntesis. (Este.)
Dois jovens de 15 e 16 anos, de Woonsocket, Rhode Island, nos Estados Unidos da América, roubaram um carro para poderem chegar a horas à escola.
Amigos, um prémio para esta malta!
São meninos tão aplicados que até desafiam o Código Civil para chegar a tempo de aprender o Ciclo de Krebs.
Eu próprio não o faria, e olhem que sou bem menino da mamã para ir às aulas todas. (Quase todas, vá...)
Roubar um carro para usá-lo num assalto a um banco é coerência pura.
Já roubar um carro para ir às aulas é, a meu ver, ter dois empregos.
Eu propunha a estes jovens o estatuto de "trabalhador-estudante".
E isto porque não existe o estatuto de "ladrão-estudante", para tristeza da malta de Chelas.
O estatuto de "ladrão-estudante" é, a meu ver, essencial.
Vamos supor, por exemplo, que um eventual político amanhã decide ser verdadeiramente Engenheiro.
Dar-se-á ao senhor o estatuto de "trabalhador-estudante"?
Não, claro que não. Esse estatuto só deve receber quem estuda e (palavra mágica) trabalha.
Vamos em frente com o estatuto "ladrão-estudante"!
Por outro lado, roubar um carro para chegar a horas a algum sítio parece-me ser algo impossível de acontecer em Portugal.
Porque o português gosta é de chegar atrasado.
Aliás, o comum português até poderá pedir a alguém que lhe roube o carro para, ao chegar 3 horas depois do combinado ao escritório, poder usar a desculpa "Epá, roubaram-me o carro".
Ainda assim, é uma pena isto não acontecer por cá.
Se isto tivesse acontecido na Escola Secundária Carolina Michaelis, hoje tínhamos um vídeo no YouTube com uma adolescente cheia de estrogénio e com tão pouco tino a gritar a um polícia dentro da sala:
"Dá-me as chaves do carro já!"