Uma lição de vida.
Apesar de tudo, tenho para mim que a vida de ladrão não é fácil.
Bem vistas as coisas, para uns é preciso saber usar uma arma.
Para outros, vestir o equipamento, empunhar o apito e ir para o relvado numa noite chuvosa.
E para um grupo restrito, é preciso convencer metade da população portuguesa a votar neles.
Daí que eu me mantenha fiel a esta ideia de que é possível sentir-me realizado vivendo honestamente, por muito que os gestores do Banco Privado Português tentem desmentir.
No entanto, bem sei que é habitual achar-se que quem rouba tem uma vida mais fácil.
E eu não quero aqui ser advogado do diabo nem tão pouco dos seus mais dignos representantes neste mundo, mas apraz-me neste momento mostrar-vos a notícia que no próximo parêntesis se encontra hiperligada.
Em Marselha, no país do queijo e do champagne, um ladrão abriu um buraco na parede de um edifício contíguo a uma dependência do Banque Populaire, com a intenção de chegar ao cofre, e acabou... Nas casas-de-banho do dito banco.
Será que agora me percebem, caros leitores?
Ser bandido não é para qualquer aselha que não sabe ler plantas de edifícios, não.
Ser bandido é ser engenheiro, mesmo não o sendo na realidade, e saber o momento oportuno para efectuar os seus actos.
(Qualquer ligação entre a última frase e o caso Freeport é mera coincidência.)
Este senhor de 21 anos que tentou chegar ao cofre do Banque Populaire achava que a vida de bandido é fácil, mas na verdade não é.
Retoricamente, lanço a questão: Como é que se pode tornar a vida de bandido mais fácil?
E mesmo sabendo que, ao responder a isto estarei, de certa forma, a incitar o banditismo junto de quem me lê, não cedo à tentação de vos dar a solução.
A meu ver, o que os bandidos deviam fazer era deixar de ter objectivos e roubar por puro prazer.
Abrir buracos nas paredes em direcção a um banco e, chegado lá, roubar o que apanhar.
Loiça de casa-de-banho, porque não?
Os ladrões dos dias de hoje é que deixam de parte a inteligência e dão mais importância a outras características da sua personalidade, nomeadamente a idiotice.
Mandar uma parede abaixo para sacar um bidé de uma casa-de-banho de um banco é, a meu ver, uma história épica para se impressionar miúdas à noite num bar.
E isso é meio caminho para se sair da miséria, se se frequentar o mesmo bar que a Paris Hilton.
Quanto à história do Banque Populaire, espero que a dita casa-de-banho tivesse, pelo menos, papel higiénico quando o ladrão chegou lá.
Para este poder, com dignidade, chorar sobre a sua estupidez, tendo uma folha dupla de Scottex para absorver as lágrimas.
Coitado do bandido.