Com um prato à frente tudo se explica melhor.
Um bom dicionário de língua portuguesa dá-nos como definições possíveis ao termo "conferência" as seguintes:
[Este Dicionário Online da Priberam é tão útil que devia ser considerado serviço público! A sério!]
Ora, eu olho para esta definição e não encontro nela nenhuma referência a almoços ou jantares...
Então porquê esta crescente mania das conferências em restaurantes?
Eu acho que tenho a resposta... E apresento-vos, estimados leitores, a minha teoria.
Com o 25 de Abril, Portugal emergiu das cinzas ditatoriais e banhou-se no doce leito da liberdade. Finalmente, o debate de ideias. Eleições livres e democráticas. E, por outro lado, Mário Soares. Mas enfim, nem tudo pode ser bom...
Dizia eu: Com o 25 de Abril, todos ficámos loucos com as novas possibilidades de discussão! [E eu falo na primeira pessoa do plural porque, como certamente sabem, estava cá no 25 de Abril...]
Podia-se finalmente debater a importância da Europa no nosso país, as questões estratégicas relativamente às agora ex-colónias... Toda uma panóplia de assuntos que nos ajudaram a chegar aos dias de hoje. E, a avaliar como estamos, parece que podiamos ter chegado a melhores conclusões nessas conferências de outros tempos...
Acontece que hoje já não há muito para debater. Todos sabemos para onde vai o nosso barco. E, sabendo disso, todos procuramos a nossa oportunidade para saltar dele.
Não obstante, mantemo-nos em liberdade, e isso parece significar que temos de continuar a reunirmo-nos para debater os mais variados assuntos. Desde a política externa até à nova tecnologia de saltos altos para as senhoras.
E é aqui, julgo eu, que a moda das conferências nos restaurantes ganha credibilidade.
Porque estas conferências, hoje em dia, são uma valente seca. Porque o que ali se debate já pouco irá servir para salvar este país.
E, sendo uma valente seca, o que é que nos apetece fazer?
Dormir, claro.
Sendo uma conferência num restaurante, e discursando os oradores após a refeição, a plateia poder-se-á desculpar, relativamente à constante presença de bocejos, com uma frase à espanhol:
"Eu depois da refeição durmo sempre uma sesta, pá... É daí que vem o meu sono!"
Porque, convenhamos: Se o que houver para debater for mesmo importante, o que não falta neste país são anfiteatros de qualidade!
Não acham?